12 de fevereiro de 2014

JOGOU TUDO PARA O ALTO E FOI PARA A ÍNDIA





HUMBERTO MENEGHIN


Tomar uma decisão que muda o rumo da vida de forma radical, muitas vezes pode ser uma faca de dois gumes. Mas, para aqueles que não fogem a essa regra, jogar tudo para o alto, abrindo mão de uma carreira profissional e até mesmo de um relacionamento amoroso e ir para a Índia por seis meses ou mais para “estudar Yoga”, pode parecer inaceitável aos olhos dos familiares, das pessoas mais próximas e daqueles que se encontra pelo caminho. Muitos podem dizer que “você vai se estrepar”, que não deve ir e “onde já se viu largar uma carreira profissional e ir para Índia! ?”... “Você já passou dos trinta!”


Pois é, aquele ou aquela que age dessa forma existem. Largam tudo porque se encantaram pelo Yoga, ou melhor, pela prática de ásanas e então, além de se desvincularem temporariamente da família e de outros relacionamentos, decidem ir para Índia, após venderem o carro e entregar as chaves do apartamento que locava.


Mas, será que não daria para conciliar a paixão pelo Yoga por aqui mesmo, sem abrir mão dos compromissos e das responsabilidades? Ou, na verdade quem assim decidiu está num processo de fuga? Um processo de fugir da vida rotineira, das pessoas que perderam a graça, das dificuldades que não quer enfrentar, de tudo mais. E, indo para Índia, tudo será diferente.








X fez isso. X abandonou tudo e foi para Índia participar de dois cursos onde a prática de ásanas era intensa, num deles até espartana. E, X deparou-se com um cenário bem diferente do que estava acostumado, pois no “ashram-escola” X teve que dividir alojamento com outros alunos desconhecidos, alimentar-se de refeições simples, acordar bem cedo e praticar muito.  E assim foi por um mês.


Matriculado noutro curso, X recebeu o certificado deste primeiro e partiu para uma cidade grande do Sul, onde a situação mudou de figura. Se instalou numa guest house onde tinha seu próprio quarto e cujo custo não era alto; e, assim passava o dia todo na escola especializada em Yogaterapia.


Terminado este curso onde também recebeu um certificado, X pegou a sua prancha de surfe e bagagem e foi para Delhi, por avião. Depois desceu para Rishikesh, “by bus”. Lá chegando, percebeu que havia perdido os dois certificados dos cursos que havia participado. Que coisa!


Em Rishikesh, com um dia de atraso, X foi ter o seu primeiro contato com Vedanta participando de um curso que ocorria apenas numa semana, ministrado por um Swami conhecido mundialmente por sua sabedoria, pois haviam lhe recomendado no Brasil para não perder essa oportunidade.


X teve a sorte de compartilhar com alguém do seu país, um bom alojamento muito melhor daqueles por onde havia estado. No entanto, o assunto Vedanta parecia não lhe ser muito atraente, mesmo que seu inglês fosse fluente em relação ao entendimento, pois havia morado nos Estados Unidos.


E X foi comparecendo às palestras, raramente saia do ashram e até ficaria mais se pudesse; no entanto, isso não seria possível, pois teria que encontrar outro lugar para ficar um mês mais para poder explorar a região e quem sabe participar de mais algum outro curso.








Aquele ou aquela que abandona tudo para se aventurar nas lides do Yoga seja com o objetivo de participar de cursos de formações no Subcontinente, viajar sem rumo e saborear a diferença cultural pode tanto se dar bem como não. No caso de X, entusiasmado que estava, essa “peregrinação” a seu jeito parece ter sido muito proveitosa, pois de uma forma e outra estava abrindo mão de seu conforto no país de origem e vivendo apenas daquilo que consigo trazia, desapegando-se.


No entanto, quando a epopéia acabar nas proximidades da data em que o visto de seis meses vencer, após ter feito muitas andanças pelo Subcontinente e surfado, o retorno à realidade ocidental poderá ser dura.


Poderá, contudo contar com a família e até mesmo reaver o antigo emprego ou querer se enveredar ainda mais nas lides do Yoga, participando de algum curso de formação para professores de Yoga aqui mesmo no Brasil e ainda procurar espaços para dar aulas de Yoga e, então cairá na realidade de que por aqui parece que, salvo alguns lugares, não pagam bem um professor de Yoga como deveriam, que toda a despesa que teve na sua trajetória Índia pode ter valido muito como experiência de vida, mas esse retorno financeiro talvez não lhe seja devolvido.


Pois bem X, procure ter uma carreira que o mantenha, mesmo que não seja um mar de rosas e paralelamente ocupe-se com o Yoga como uma segunda opção. A não ser que pelo caminho tenha a boa sorte de encontrar muitos alunos-praticantes que sejam comprometidos, que levam o Yoga a sério, que querem ter aulas com você e que lhe paguem bem e em dia. E, lembre-se de recolher a contribuição previdenciária ao INSS para que a aposentadoria se garanta.


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