1 de maio de 2012

QUEM FALA MUITO E DETESTA FICAR SOZINHO TEM DIFICULDADE PARA MEDITAR



HUMBERTO MENEGHIN


No meio em que vivemos existem pessoas que gostam muito de conversar, serem ouvidas e terem companhia. Isto é bem normal aos seres humanos; pois como sabemos os animais irracionais não falam, não precisam ser ouvidos e não fazem conta de qualquer companhia, salvo alguns; no entanto, quando o falar demais e o conseqüente medo de ficar só são evidentes a alguém, isso pode denotar que essa pessoa possivelmente tenha alguma dificuldade para meditar.

Convidada a participar de um momento de relaxamento e meditação, uma pessoa que fala em excesso provavelmente não irá consegui aquietar a mente, salvo raras exceções, pois ainda está envolvida com problemas corriqueiros.


Com o inato costume de falar muito onde quer que esteja, no momento que se predispõe a tentar meditar, a mente dessa pessoa não consegue ficar quieta e não para de passear de pensamento a pensamento, atendo a atenção aos eventos que já passaram e aos que virão depois; jamais no momento presente.




Focar o momento presente, mesmo que seja por pouco tornar-se muito difícil para os tagarelas, pois muitos já estão condicionados à tagarelice desde a tenra idade. Pode ser muito difícil para essa pessoa calar-se, podendo achar até que está perdendo um tempo muito precioso no caminho para aquietar a mente com o objetivo de meditar. Acha isso impossível e que poderia muito bem estar conversando com alguém que tenha ouvidos mais do que pacientes as suas palavras, ao invés de dispensar alguns minutos com “meditação”, que é uma coisa só para monges ou eremitas, o que definitivamente não é a sua praia.




No entanto, mesmo tendo consciência de que precisa calar-se, porque lhe mandaram por e-mail um link de vídeo animado onde é mostrado que é muito possível meditar em poucos minutos, resolve, por curiosidade, participar de um retiro; não um retiro de silêncio, pois isso seria horrível, mas um daqueles retiros de fim de semana onde se tem o contato com a Natureza, toma-se banhos de cachoeiras, pratica-se Yoga, come-se muito bem e conhecem-se pessoas novas, que estão acostumadas a meditar, pois parece que assim seria mais fácil entrar na deles e meditar.




 No entanto, essa pessoa ao invés de aproveitar o retiro para se aquietar e tentar meditar, escrava de sua tagarelice incontrolável, continua passando longe de qualquer concentração e meditação. Assim, acaba atrapalhando o bom andamento do encontro, nem se apercebendo que foi muito inconveniente.

O ser humano tem dois ouvidos para ouvir e uma boca para falar, mas mesmo assim parece que algumas pessoas tem duas bocas para falar e meio ouvido para ouvir.

Então, o que uma pessoa falante, que ainda tem o pavor de ficar só, pode fazer para pelo menos tentar meditar?

As pessoas que falam demais são carentes e necessitam de atenção, assim como as pessoas que falam de menos, pois ambas não estão no meio termo; ou seja, no equilíbrio, que é falar o necessário no momento certo e ainda não ter qualquer receio de estar com ou sem companhia.

Para essas pessoas que falam demais e detestam ficar sozinhas, a prática consciente do Hatha Yoga, através de uma boa seqüência de ásanas pode contribuir para que essa inquietação se atenue, se a essa ação estiver determinada e se identificar.




Atuando de uma forma sutil nos aspectos físico, mental e psíquico a prática de ásanas aliada a respiratórios, pranayamas, mudras e até mantras irão auxiliar aquele ou aquela que quer centrar-se no Ser a se aquietar para finalmente poder tentar meditar. Diferentemente de certas práticas que apenas se compõe de ásanas, poucos pranayamas e se encerram com o relaxamento, sem que haja uma continuidade com a meditação, o que é lamentável.

Pode, contudo, aquele ou aquela que participa de uma prática assim, ou seja, onde o momento reservado à meditação não existe, sentir-se mais leve, nutrida de um bem estar passageiro; mas, no primeiro momento que voltar a abrir a boca, a verborragia será incontrolável e os efeitos dos ásanas se diluirão como a maré que se recolhe.

No entanto, havendo uma continuidade da prática com a meditação, pouco a pouco, mesmo que os pensamentos que rodeiam pela mente queiram perturbar, descentrar e o foco no fluxo respiratório parecer difícil, perceberá que após a prática, aquela verborragia aguda que era latente parece começar a perder força.




E, mais tarde, com o decorrer do tempo, se dedicando às várias tentativas para meditar, começará a notar que os pensamentos já não mais vagueiam tanto pela mente como antes, que a respiração está mais tênue, que os assuntos mundanos e a vontade incontrolável de falar parecem não mais atrair a sua atenção; pois, agora, o que conta mais é a qualidade do que se fala e não a quantidade e o falar torna-se apenas sobre o necessário, ainda que encontre pela frente alguém que goste muito de tagarelar. Ou seja, a sua vida muda, e ficar só passa a ser um momento propício a meditar e não mais um momento pavoroso.

Harih Om!

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