13 de setembro de 2011

MEDITAÇÃO: INTERRUPÇÕES




HUMBERTO MENEGHIN


Encontrar tempo para se dedicar à meditação, mesmo que seja por dez minutos ao dia, parece não ser fácil; mas, para certos praticantes isso não é nenhum empecilho pois já criaram o hábito saudável de entrar em contato com o Ser.

O meditador que está acostumado a meditar diariamente se recolhe num ambiente propício à meditação, preferivelmente sem qualquer incômodo e os que com ele convivem sabem que naquele momento não deseja ser incomodado de modo algum. 


Então, aquele ou aquela que medita se coloca em um assento com base firme e confortável, preferivelmente protegido da frieza do assoalho por uma almofada, tapete ou mat e se atenta em manter a coluna vertebral corretamente alinhada com o pescoço, a cabeça e o restante do corpo está bem estável.









Em um primeiro momento, após essas ações, o meditador está pronto para iniciar o seu momento de introspecção; só que, inevitavelmente, algumas preocupações e pensamentos são evidenciados pela mente justamente na hora em que não quer que apareçam. 


No entanto, o meditador decide observá-los e pouco a pouco permite que se vão, um a um, sem se apegar; mas outros pensamentos aparecem e insistem em continuar a bater à porta da mente como: lembranças, cobranças, afazeres, agitações, etc. 


Então, novamente quem está tentando meditar apenas os observa e os deixa passarem, como se fossem uma brisa perene que se esvai pelo oceano. Mas, uma leve pressão em uns dos pés é notada e isto passa a incomodar.








O meditador achava que estava pronto para dar continuidade a sua tentativa de meditar com tranqüilidade, mas esta dor o interrompe. Ele se mexe ligeiramente e por fim a dor parece querer se aliviar. Mais uma vez acontece o desapego a este tipo de solicitação mental e quem está meditando não dá mais ouvidos a ela e as outras que persistem em retornar; então, ele se centra no momento presente e sua atenção se volta para o fluxo respiratório, do ir e vir da respiração ao inspirar e ao exalar e mesmo que um mantra precursor de concentração é recitado mentalmente, seus sentidos começam a se abstraírem e tudo o que está por fora, todos os barulhos, ruídos e incômodos, incrivelmente não atrapalham mais.



Por um momento o fluxo respiratório parece nem mais existir de tão tênue que a respiração está, pois é acompanhado por um relaxamento muito agradável sentido por todo o corpo. Ninguém está em casa, só o meditador; então, sem esperar o interfone toca com insistência como se fosse alguém a gritar no ouvido e isto o perturba, pois com este barulho vem a lembrança de que da portaria ligam para dizer que o entregador de água mineral já está vindo.









Uma perturbação maior toma conta do Ser, pois o meditador se sente como tivesse sido acordado de um sono profundo; então ele atende o interfone e recebe o comunicado esperado. Uma sensação que não é boa, por ter sido abruptamente interrompido no momento de meditação, é inevitável de sentir e a mente se zanga com quem ligou da portaria e com o entregador da água mineral.



A água mineral é entregue. Retornar à prática da meditação parece não ter mais sentido, pois o meditador ainda se sente com aquela sensação de ter sido interrompido de um sono muito profundo. Poderia reclamar com quem interfonou, mas em fim ele sabe que não há culpa de quem simplesmente estava realizando o seu trabalho, pois que o entregador da água mineral só vem uma vez na semana.








Para que o praticante tenha sucesso em seu momento meditativo, sem que interrupções de qualquer tipo possam aparecer, não custa comunicar aos que a sua volta estão que naquele momento específico se retira para meditar e não quer ser incomodado. Dizem que desligar o telefone, por exemplo, é uma boa medida também. Mas, a campainha da porta e o interfone, a priori, não podem ser desligados.



Podemos entender porque certos sábios yogis preferem a madrugada para se entregar à prática da meditação, a partir das quatro horas da manhã, período que é chamado de brahmamuhurta, onde a mente está mais calma e serena, livre de preocupações e ansiedades, ou seja, livre dos samskaras mundanos. E outra vantagem é que a atmosfera está mais equilibrada, o ar mais puro, sem barulhos e outras distrações a incomodar.








Se você ainda não tem o hábito de acordar às quatro horas da manhã todos os dias e ainda prefere meditar pela manhã ou outro horário, tem que ficar ciente que as interrupções, de vez em quando são inevitáveis, mesmo que você tome providências prévias para não ser interrompido; pois que, até o barulho de alguém tomando um gole equivocado de chá quando a meditação é feita em grupo, pode chegar a incomodar quem está ao lado tentando meditar.








Tentar meditar faz parte daquele que quer, pouco a pouco, se encontrar com o Ser e se desligar daquilo que pode incomodar. De repente, num outro momento da vida, aquilo que parecia irritar ou incomodar, poderá não mais incomodar e irritar e isso somente irá mostrar que progressos estão sendo feitos na prática da meditação; no entanto, há muito mais por vir pela frente.

Harih OM! 

2 comentários:

  1. Sei que já passou algum tempo desde a publicação desse post mas simplesmente me identifiquei muito com ele e precisava comentar aqui, me ajudou a entender que não sou só eu que sente esse pequeno sentimento incômodo após ser interrompido e achava que eu estava fazendo errado por conseguir ser interrompida, achava que isso não acontecia, que alívio. Recentemente comecei a meditar e já estou começando a entender os benefícios dessa prática tão simples e tão renovadora no dia-a-dia. Obrigada pelo texto.

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    1. Obrigado pelo comentário Gabih.Com a prática os ruídos deixam de incomodar, mas para mim ouvir alguém assobiando continua sendo um obstáculo a superar.OM.

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