8 de julho de 2011

MINHA AMIGA PRATICA YOGA, EU TAMBÉM! – PARTE DOIS


HUMBERTO MENEGHIN


Que dia agitado! A Claudinha ficou presa no trabalho e só na última hora me disse que não iria à aula de Yoga, naquela noite. Que inconveniência! Estava contando tanto com a carona da Claudinha! Então, pensei em faltar ao Yoga também. Se a Claudinha não vai, eu sem carona também não vou. Nossa! Mas é a minha segunda aula e hoje eu fiquei de acertar com eles lá no espaço. 

Sem mais lutar comigo mesma, decidi chamar um táxi e ir para minha segunda aula de Yoga. Que chato que a Claudinha não vai poder ir! O chefe segurou-a além do horário.




Cheguei ao espaço de Yoga faltando quinze minutos para a aula começar e notei uma aglomeração de alunos conversando alto, na maioria mulheres, rodeando uma mesa onde estavam expostos produtos para venda, made in Índia, como incensos, panos, etc... Então, ouvi uma voz chamar pelo meu nome. Era a recepcionista que perguntou se eu estava bem, mas no fundo queria me lembrar que eu deveria acertar com eles... abrir a carteira para pagar a mensalidade.

Ofereceu-me uma cadeira para sentar, perguntou se queria um chá, que já recusei de imediato e me disse que deveria deixar seis cheques, sendo que cinco seriam pré-datados. Então, falei que gostaria de pagar por mês e que não deixaria os cheques. Não adiantou porque a recepcionista me disse que era praxe do espaço recolher os cheques todos de uma vez.

Já estava ficando meio enfezada com isso, onde já se viu obrigar os alunos pagar adiantado? Sem pensar muito rodei a baiana e disse que não iria aceitar de jeito nenhum essa arbitrariedade. Sem jeito, a recepcionista querendo abafar o meu pequeno escândalo disse que iria falar com uns dos donos do espaço e que depois me retornaria. Então, me sugeriu que fizesse a minha aula de Yoga com tranqüilidade.

Mudei a minha roupa correndo e me lembrei que ainda não tinha comprado aquele tapete de borracha, mat, como chamam. Que chato! Teria que emprestar um com urgência. Ih, não gosto de atrasar, mas a aula já havia começado. O professor que tanto gostei já tinha acabado de entoar o mantra OM e na seqüência começou a fazer um outro mantra que eu desconhecia completamente. Eu me sentei pelo chão mesmo e nós repetimos o novo mantra em forma de pergunta e resposta. Este o mantra: 


Om Sahana Vavatu
Saha Nau Bhunaktu
Saha Viryam Kara Va Vahai
Tejasvina Vadhi Tamastu
Ma Vidvisha Vahai
Om, Shanti, Shanti, Shantih.


Tentando não incomodar fiquei parada, estática, até ele terminar de explicar o significado do mantra que diz:


Que estejamos protegidos e unidos.
Que estejamos nutridos e unidos.
Que possamos trabalhar juntos pelo bem comum.
Que nunca haja inimizade entre nós.
Que haja paz, paz, paz!!!


Que mantra interessante este. Adorei a explicação do significado que o meu professor deu. Depois, ele me disse um “oi” discreto e falou para que eu pegasse um tapetinho e me acomodasse para a prática. Que gentil!

Notei que na minha segunda aula de Yoga havia algumas pessoas que não tinha visto na aula anterior. Uma mulher, que logo não fui com a cara, ocupava a vaga à minha frente e vestia uma camiseta azul piscina com o dizer “Beatles 4ever”, parecia querer me imitar nas posturas que eu fazia. Que coisa! Ouvi dizer que se chamava Simone, porque, meu professor ao ajustá-la num ásana disse o seu nome.




Simone parecia já ter passado dos cinqüenta anos de idade. O cabelo era bem curto, tingido num tom de loiro. Notei que era bem mais baixa do que eu. Essa Simone parecia que queira ficar mais tempo em cada ásana, pois quando a turma passava para uma outra postura, continuava na anterior, até o professor dizer que já estávamos noutra posição. Que mulher chata! Toda hora interrompia e pedia auxílio do professor que estava lá para auxiliar a todos nós e não só a Simone.




Pois bem, decidi me concentrar mais no meu ásana, que significa assento, que deve ser firme e confortável, do que ficar implicando com a Simone. E não é que a tal da Simone resolveu sair no meio da aula e pisou sem dó no tapete que eu estava ocupando! Conclui que ela foi ao toalete. E a aula continuou sem a Simone, mas ela voltou talvez depois de uns cinco minutos e pisou sobre o meu tapete de novo!




Fizemos alguns pranayamas e então chegou a hora de relaxar. Percebi que a Simone até colocou uma máscara nos olhos, acho que uma daquelas que se usa em avião e o professor colocou uma espécie de almofada grande, com o formato cilíndrico, em baixo das pernas da Simone. Eu também quis uma e então descobri que se tratava de um “bolster”.  Por incrível que pareça, senti que meu corpo melhor se acomodou. Fechei os olhos e comecei a ouvir a voz do professor nos conduzir em um providencial relaxamento.




Quase que estava caindo em sono, mas fomos avisados para não dormirmos durante o relaxamento. Então fiquei ali, relaxando, sem nada a me incomodar. Mas, isso era muito bom para ser verdade, pois comecei a ouvir alguém roncar! Pode isso! Na hora que estou relaxando, me desligando de tudo, vem esse incômodo? Procurei saber quem estava roncando, mas nem precisou muito esforço pois era a Simone. A partir daí aquele ronco só me incomodou e eu não consegui mais relaxar.

Então, o professor pediu que deixássemos o savasana e que agora nos preparássemos para a meditação. Hoje, resolvi me encostar na parede e a Simone após ter acordado de sua soneca, fez o mesmo.  Coloquei o cobertor feito em flecee sobre meu corpo e fechei os olhos.




Meu professor começou a nos conduzir maravilhosamente numa boa concentração cujo foco foi o centro da testa e depois passou a ser a inspiração e expiração.  O silêncio desta vez estava me ajudando a concentrar, mas de repente veio-me à mente a lembrança de que daqui a pouco eu saberia se teria que deixar os cheques ou não como pagamento das aulas.

Acho que ficamos assim tentando meditar, por uns quinze minutos até ouvir o toque de um celular com a música “Hey Jude” e a minha mente concluiu que só poderia ser o aparelho da Simone, já que parecia ser fã dos Beatles. Sorte nossa que o momento da meditação havia terminado e o professor já encerrava a aula, enquanto Simone desligava o celular.

Terminada a aula, notei que a Simone ainda ficou na sala batendo um papinho com o professor. Então, peguei as minhas coisas e fui saber o que haviam decidido sobre os cheques. Deparei-me com a recepcionista ao telefone, aguardei por um minuto mais ou menos e então ela me disse que o meu caso havia se resolvido e que eu poderia pagar mensalmente. Até que em fim!

Deixei o primeiro cheque e pedi que ela me chamasse um táxi, pelo telefone. Gentilmente ela fez isso por mim e eu fiquei aguardando. De onde estava, sentada pela recepção, podia ver a rua, então, percebi que o meu professor de Yoga e aquela mulher que incomodou a todos durante a aula se aproximavam conversando. Ela se despediu dele com beijinhos.

O táxi chegou lá fora e quando eu me levantei para pegá-lo, Simone passou na minha frente muito apressada. Eu não posso acreditar nisso! Ela foi mais rápida e num piscar de olhos pegou o meu táxi! Que mulherzinha oportunista essa! Agora roubando o meu táxi também!

Foi então, que decidi ir embora a pé para casa. E, sem esperar, aquele novo mantra que o meu professor nos ensinou no início da aula voltou à minha mente:


Om Sahana Vavatu
Saha Nau Bhunaktu
Saha Viryam Kara Va Vahai
Tejasvina Vadhi Tamastu
Ma Vidvisha Vahai
Om, Shanti, Shanti, Shantih.


Que haja paz, paz, paz! Nunca inimizade entre nós.

Harih Om!

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