14 de junho de 2011

A MALA PERDIDA: EXERCITANDO O DESAPEGO




HUMBERTO MENEGHIN


Quando viajamos em férias para o outro lado do mundo, longe de tudo e de todos, em especial para Índia onde os costumes são muito diferentes dos nossos, não queremos de jeito algum que a mala que despachamos não deixe de aparecer pela esteira do aeroporto por onde as bagagens costumam vir. No entanto, hoje em dia, o extravio de bagagens é muito comum de ocorrer.


A primeira reação, unida ao cansaço e a diferença de horas entre um país e outro, é a não aceitação pelo o que aconteceu. Então, você se pergunta, por que somente a minha bagagem se extraviou enquanto as dos meus companheiros de viagem todas elas vieram?


Ao procurar uma resposta condizente, alguém mais acostumado a viajar sugere que se elabore uma ocorrência junto à empresa aérea e que se peça uma indenização inicial. Feito isso, mesmo que se tenha levado quase uma hora para ser atendido e preenchido um formulário, como lidar com essa perda momentânea?












As coisas materiais que acumulamos no decorrer da vida têm um valor bem significativo para nós. Dizem, que pelo fato de os bens escolhidos a dedo para uma viagem terem se perdido, em especial quando essa viagem é para a Índia, traz a mensagem de que aquele ou aquela que foi vítima de um extravio de bagagem deve aproveitar este evento para exercitar o desapego.


Muito se tem falado em desapego: desapego em relação a bens materiais, desapego ao dinheiro, desapego às pessoas ou ao um relacionamento, desapego em relação a uma situação que incomoda e persiste na mente ou até mesmo o desapego quanto à situação feliz que já passou, mas que por insistência ainda estamos demasiadamente apegados.


No caso da mala que se extraviou, de uma forma ou outra, o desapego parecia ser  momentâneo, pois ainda permanecia a grande expectativa de a bagagem chegar no dia seguinte, intacta com todos aqueles bens que mais se valoriza. Então, o exercício do desapego acontece dentro de um período curto, pois tem-se a informação e o alívio  de que a mala virá logo logo.








Mas, na verdade, a mala não veio no dia seguinte, nem no outro e nem no outro. E o desespero ressurgiu acompanhado de queixumes e uma grande sensação de perda persistente junto da mensagem de nunca mais ver aquelas roupas e os outros pertences bem estimados.


Exercitar o desapego pode aparentar ser uma tarefa fácil para alguns, para outros não. Mas, como conseguir exercitar o desapego num mundo em que somos naturalmente apegados?


Você já parou para pensar de qual mala você tem que se desapegar? Será a mala da ignorância, da intemperança, do desespero, da amargura, do dinheiro? Ou será a mala da raiva e da incompreensão? Desapegar-se de uma mala, no sentido literal da palavra, pode ser bem mais fácil do que se desapegar de algo ou alguém de que, em um primeiro momento, não queremos nos desapegar.










Que a mala não apareça jamais, outra poderá ser comprada, ou seu conteúdo poderá quase que ser reposto, sendo que talvez um ou outro objeto não se possa substituir. No entanto, em relação a este objeto insubstituível somente o tempo ajudará atenuar a sensação de perda e conseqüentemente o desapego se fará também de uma forma natural e aquele que antes estava tão apegado se libertará.


Então, só resta dizer que a mala da Cecília finalmente chegou no quinto dia de viagem pela Índia e foi retirada em Chenai, com sucesso, mesmo parecendo que jamais viria.

Harih Om!

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