17 de maio de 2011

OLHOS ABERTOS OU FECHADOS?


HUMBERTO MENEGHIN
artigo publicado  originalmente no www.yoga.pro.br

Durante a prática de ásanas, a maioria dos praticantes do Yoga que conheço procura alternar momentos em que os olhos permanecem abertos como outros em que eles permanecem fechados. No entanto, existem algumas pessoas que mantém os olhos bem abertos durante toda a prática.

Um dia desses, durante uma aula de Hatha Yoga, notei que uma das alunas não fechava os olhos para sentir o ásana. Então, sugeri que experimentasse fechá-los por um momento. De início percebi certa resistência. Talvez, fosse porque à parede em frente houvesse um grande espelho e conseqüentemente a praticante quisesse continuar a observar a reflexão de seu corpo físico em ásana. Ásanas iam e vinham. Novamente, sugeri que a praticante fechasse os olhos e desta vez, momentaneamente, houve uma concordância e ela os fechou.


Permanecer alguns momentos com os olhos fechados durante a execução de ásanas, a primeira vista parece sem importância, mas esse simples gesto de fechar os olhos de uma maneira leve e singular, mesmo que por um curto espaço de tempo, conduz o praticante a uma maior interiorização em sua prática. Uma maravilhosa e valiosa interiorização do Ser consigo próprio, que o leva a sentir a essência de cada ásana, o que ele nos reporta, permitindo àquele que o executa abster-se de estímulos visuais e conectar-se de corpo e alma com seu âmago. Como resultado, esse gesto singular de manter os olhos fechados para sentir o ásana traz de presente ao yogi, sem que peça ou espere, um breve momento que o conduz em direção à concentração, seguido por um estágio inicial de meditação.

Parece raro, mas do contrário, existem algumas pessoas que do início ao fim de uma prática preferem executar asanas com os olhos fechados, não os abrindo para nada, apenas atentando-se as palavras orientadoras do professor. Isso, no entanto, pode nos revelar que o praticante em si encontra-se mais centrado no estímulo auditivo do que visual, o que não o impede de também alcançar um breve momento introdutório ao estágio meditativo. 

Porém, se esse praticante se dispuser a manter os olhos ocasionalmente abertos, isso o auxiliará a tomar conhecimento da forma como um novo asana, que ainda não conhece, é executado e transmitido pelo professor.

Alguns, ainda sugerem que, de vez em quando, pratiquemos ásanas mantendo os olhos totalmente fechados ou totalmente abertos, com a finalidade de quebrar o condicionamento do Ser. Esta proposta parece válida, mas cabe ao praticante saber o momento oportuno para essa experiência.



Sabemos também, que apesar de existirem algumas práticas do Yoga que demandam a permanência dos olhos abertos e atentos a um foco, em drishti, nesses casos a necessária fixação ocular somente irá contribuir para o aumento da concentração do praticante no empenho do asana, o que também precederá a um primeiro estágio meditativo.

Com olhos abertos ou fechados? Você já viu alguém relaxar com os olhos bem abertos? Pode até ser possível, mas como sabemos, já está bem convencionado e cristalizado que quando o yogi praticante passa para aquele precioso momento de relaxamento e/ou yoganidra, que geralmente ocorre no final da prática, antecedendo àquele momento preparatório à meditação, é certo que irá manter os olhos levemente fechados.

Diferente não é, durante o momento em que o yogi se retira para meditar; os olhos também se fecham. Mas, do reverso, existem certas técnicas de concentração/meditação que se processam com os olhos abertos, tal qual a meditação zazen praticada pelos budistas frente a uma parede.



Diante dessa controvérsia em manter ou não manter os olhos fechados durante a prática do Yoga, sabemos que existem praticantes dedicados, verdadeiros yogis privados da visão, que não têm qualquer tipo de impedimento de executarem asanas, estando plenamente aptos a conduzirem a prática e transmitirem corretamente o ensino da filosofia milenar.



Mas, a escolha de quando manter os olhos abertos ou fechados na prática do Yoga, em especial durante a execução de ásanas, cabe única e exclusivamente ao yogi praticante, que estando em conectividade com si próprio e com o professor perceberá aquele exato momento em que o encontro do Ser com a sua essência deverá eclodir.
Harih Om!

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