27 de março de 2011

DO BARRO AO PLÁSTICO




HUMBERTO MENEGHIN


Não faz muito tempo, mais precisamente na década de setenta, nas estações de trens da Índia, era comum vendedores de chá e café oferecerem essas bebidas aos passageiros que embarcavam ou desembarcavam. Vendiam o chá ou café em pequenos copos feitos de barro e depois quem os consumia, seguindo o costume, jogava esses copos diretamente à linha férrea. Em pedaços, esses copos retornavam a terra, à mesma essência da matéria prima do qual eram feitos.







Este costume peculiar durou até a chegada dos atuais copos plásticos e descartáveis que todos nós conhecemos. Aqueles copos bem feitos, geralmente brancos, com bordas específicas para acomodar os lábios e pequenas linhas em volta para dar mais firmeza a quem os seguram.




Após o consumo da bebida, estes copos plásticos também são descartados como aqueles que outrora eram feitos em barro, mas como a sua matéria prima difere muito da terra esses copos “mais práticos” não se desintegram de imediato quando em contato com a terra, levando anos e mais anos para desaparecerem.







Infelizmente, a maioria dos indianos e alguns outros povos ainda não se conscientizaram da importância de jogarem esses copos plásticos e outros produtos da mesma espécie no lixo ou até mesmo separá-los para reciclagem, o que é uma lástima; ou seja, mudou-se a matéria prima dos copos que servem o café e chá, mas quanto ao modo de descarte, manteve-se o mesmo que era adotado para os copos feitos com barro.




Este exemplo foi contado pela professora Glória Arieira, em uma de suas aulas, como uma forma introdutória e didática para ensinar sobre a causa do Universo que é chamada de Isvara.

Indubitavelmente, temos dois tipos de causas jungidas a qualquer tipo de criação; são elas: a causa inteligente e a causa material.

Temos por causa inteligente, nimittakarana, aquele Ser que é inteligente, que tem conhecimento e capacidade para criar/produzir um objeto.  No caso de ambos os copos, aquele que é feito em barro e o que é feito em plástico, há uma causa inteligente por trás de suas criações, seja um simples oleiro ou um designer.

Quanto à causa que é material, upadana-karana, por si só, se refere ao material pelo qual o objeto é feito, no caso dos copos, as matérias barro e plástico. No entanto, Isvara é ao mesmo tempo causa inteligente e material do Universo.

Consoante exemplos dos copos que são feitos em barro e em plástico, bem como em relação a tantos outros objetos, entendemos que essas causas, a inteligente e a material, estão separadas e isso é bem natural mesmo.




Entretanto, conforme é dito nos Vedas, Isvara não é apenas um Ser dotado de inteligência que simplesmente pega um material que dele está separado para criar o Universo; mas, do contrário, Isvara é a causa inteligente e material, a causa única do Universo, aquela inteligência que está por trás da criação, onde o Universo não é separado dele e sim é a sua expressão.

Destarte, tudo o que existe no tempo e no espaço é Isvara e não há a mínima necessidade de buscá-lo em nenhuma outra parte.

Se você for parar para refletir um pouco, notará que no Universo há uma Ordem, uma Ordem de causa e efeito que está presente em tudo, Ordem esta que permite que possamos entender todos os acontecimentos do próprio Universo. E esta Ordem que não falha e que a tudo governa é Isvara. Isvara que é ao mesmo tempo causa e expressão do Universo.

 Deste modo, entendemos que nós como indivíduos que estamos por aqui, não estamos separados dele e que tudo o que existe é Isvara, isto é, Brahman, que é livre do tempo, que é livre do espaço, livre de qualquer forma, completo em si mesmo e ainda livre de qualquer limitação, o que é a base de tudo o que existe; a consciência plena, purnam, cuja natureza é idêntica à Atman.

Harih Om!

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