26 de janeiro de 2011

UMA LAVANDERIA CHAMADA DHOBI GHAT



HUMBERTO MENEGHIN


Dhobi Ghat, uma grande lavanderia, a céu aberto, em meio ao urbano de Mumbai–Índia, chama muito a atenção dos que passam por lá. Tomada por tanques em cimento e varais intermináveis carregados por peças que secam, a casta dos lavadores de roupas, diariamente, põem as mãos na massa e lavam todas as peças sujas que chegam: como roupas, toalhas e lençóis, enviados por moradores e hotéis da cidade.



Muito embora alguns possam parecer não gostar do trabalho que fazem, quem os observa nota que procuram realizá-lo da melhor forma. Os dhobis molham as peças, esfregam, torcem e as batem com toda força nos tanques e com o efeito da água e sabão mandam embora toda a sujeira impregnada nas entranhas dos tecidos.




Colocadas as peças para secarem em varais que se espalham por toda lavanderia, o Sol completa o serviço dos dhobis, evaporando toda a umidade. Recolhidas, dobradas e passadas, as roupas, toalhas e lençóis são entregues corretamente a seus destinatários, identificados por códigos criados pelos próprios dhobis, que estão impressos nas bordas das peças.




Comparando o simples ato de lavar roupas por esses lavadores e eventualmente por nós mesmos, notamos que no Yoga também existem algumas técnicas de purificação utilizadas pelo praticante como os shat karma, previstos no Hatha Yoga Pradipiká e dentre eles temos: kapálabháti, trátaka, nauli, neti, dhauti e vasti.

Através dessas ações o praticante além de promover o início de uma purificação no organismo, paralelamente reorganiza a energia interna, harmoniza ida e pingala e equilibra os doshas.

É verdade que nem sempre estamos predispostos e disponíveis a lavarmos as nossas próprias roupas sujas diretamente no tanque, como também muitas vezes não dispensamos a devida atenção a algumas das técnicas de purificação supra citadas, nem que seja apenas um ciclo de Kapálabháti.

Mas, se pelo menos uma delas, talvez a preferida, for praticada eventualmente por quem se dedica ao Yoga, a fisiologia do corpo irá, com certeza, começar a se restabelecer e clarear como as peças que são lavadas pelos dobhis na grande lavanderia; que depois, ao serem colocadas ao Sol para secar irão refletir o visível resultado de uma boa purificação.

A limpeza externa do dia-a-dia como lavar as mãos, escovar os dentes e tomar banho, o básico da higiene pessoal, são ações necessárias aos humanos; muito embora alguns possam não adotá-las. Então, nos deparamos com um dos cinco nyamas que é saucha, que por sua vez também significa pureza e limpeza, tanto interna quanto externa, englobando um processo adotado pelo praticante que tem por finalidade mandar embora toda e qualquer negatividade impregnada no corpo e na mente. Isto, no entanto, envolve escolhas conscientes em relação aos nossos sentidos tais como: o que comer, o que ouvir, o que ver e assistir e sobretudo o que pensar e falar. Acrescentando, também, o respeito mútuo e a civilidade para com a comunidade e o planeta.

Cuidar do Ser significa, ao pé da letra, observar a si mesmo e notar o que se pode lavar. E, principalmente, como lavar toda sujeira que está incrustada não só fora, mas também dentro de nós; sujeira muitas das vezes acumulada durante anos, como raiva, mágoas, ressentimentos e as inconformidades de todos os tipos.




Se a flor de lótus nasce da lama e a sujeira teima impregná-la, suas pétalas não a retém. E, por isso, o que é sujo irá retornar de onde veio e deixará de afetar a integridade do Ser.

Harih Om!

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